terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Conto - Paranoia

1

- Eu sei que você passou por uma experiência ruim. Mas você não pode ficar trancada aí tomando remédio para sempre. – disse sua colega de quarto em frente a porta do quarto
- Me deixa em paz! – gritou Mariana de dentro do quarto
Já fazia uma semana que ela estava no quarto. Só saia para ir ao banheiro. Só comia uma vez ou outra.
Só conseguia dormir se tomasse remédio. Algumas vezes eram tantos pesadelos que tinha que tomar mais de uma pílula para cair no sono.
Mariana saiu do quarto arrastando os pés, se encostando nas paredes.
- Mariana! – gritou Deborah, vendo que a amiga finalmente saíra do quarto
Mariana passou direto para o banheiro. Antes que ela fechasse a porta, Deborah colocou o pé na frente.
- Mari, você tem que sair um pouco. Tomar um banho.
- Tá. Deixa eu fazer xixi em paz.
Deborah deixou ela fechar a porta, mas ficou esperando do lado de fora.
Assim que Mariana abriu a porta, Deborah voltou a falar:
- Vamos no shopping comigo? Vamos? Tem um sapato lindo que eu quero comprar. A gente pode ir no cinema, ver aquela comedia que você queria ver.
Mariana respirou fundo.
- Vamos? – perguntou Deborah fazendo cara de coitadinha
- Tudo bem.

- Viu como faz bem sair de casa? – disse Deborah de mãos dadas com Mariana – Respirar novos ares.
- Aham. – respondeu Mariana, que nem prestava muito atenção no que a amiga dizia, estava mesmo olhando em volta, vendo se ninguém as seguia, ou observava.
No ponto de ônibus, só Deborah prestava atenção nos ônibus.
Mariana olhava em volta com um olhar de assustada. Percorrendo os olhos em todas as pessoas que estavam no ponto, seus olhos focaram numa única pessoa. Um homem a olhava diretamente nos olhos. Vestindo jaqueta bege e calça jeans, um olhar ameaçador, que fazia Mariana se arrepiar.
Ela desviou o olhar. Olhou para a rua, para a amiga, que falava alguma coisa sobre sapatos.
A demora do ônibus deixava Mariana agitada. De vez em quando discretamente olhava para trás e via o homem encarando-a.
Assim que o ônibus surgiu no horizonte, ela fez sinal como uma desesperada.
Subiu logo no ônibus, puxando sua amiga.
Quando se sentou sentiu-se aliviada por se livrar daquele cara. Mas seu alívio foi substituído por terror quando viu o mesmo homem subir no ônibus.
- Parece que aquele cara tá seguindo a gente. – disse Mariana
- Tá nada. – disse a amiga sem dar importância – Então, primeiro a gente vai comprar um sapato pra mim, e depois vamos ver um filme de comédia pra levantar seu astral.
De vez em quando Mariana olhava disfarçadamente para trás e via o homem encarando-a.

Na hora de saltar, Mariana ainda deu uma última olhada para onde o observador estava sentado, mas ele não estava mais lá.
Ela se sentiu aliviada. Talvez ele tivesse saltado e ela nem viu.

Como Deborah havia planejado, primeiro elas foram comprar um sapato para ela.
Mariana só ficou sentada olhando, de vez em quando se perdia em seus pensamentos, mas Deborah sempre chamava sua atenção para trazê-la de volta a realidade.
Ela observava as pernas das pessoas que andavam pelo shopping. Até parecia engraçado um monte de pernas andando em várias direções.
Mas ao fundo tinha um par de pernas que estava parada. Ela levantou os olhos e viu o mesmo homem de jaqueta bege encarando-a.
No susto soltou um grito que assustou a todos na loja.
- Mari, o que foi?! – perguntou a amiga preocupada.
Mariana se levantou aterrorizada.
- O cara do ônibus! Ele tá ali me encarando! – gritou ela apontando para o homem
Deborah olhou para onde ela apontava, mas não via ninguém.
- Não tem ninguém te encarando.
Na verdade tinham várias. Mas nenhum olhar ameaçador, estavam assustados achando-a louca.
- Ele está ali! – continuou gritando apontando para o vazio.
Deborah respirou fundo, a amiga não estava bem.
- Vamos, eu vou te levar para casa.
- Não! Nós não podemos ir para casa! Ele vai seguir a gente! – gritou Mariana saindo da loja
Deborah foi atrás da amiga. Todos se afastavam de Mariana como se sua loucura fosse contagiante.
- Mariana, calma. Não tem ninguém te perseguindo.
- Ah, você que diz isso. Vai ver você está junto com ele nessa. – ela já estava indo em direção à saída do shopping
 - Para de maluquice. Eu sou sua amiga. – disse Deborah tentando pegar o braço de Mariana.
- Me larga! – gritou ela puxando o braço e correndo desesperadamente para a rua.
- Para!
O grito de Deborah foi abafado pelo som da buzina do ônibus. Mas o som veio tarde demais para alertar Mariana.
Deborah viu sua amiga ser atingida fortemente pelo ônibus.
Talvez Mariana ainda estivesse viva se Deborah não tivesse insistido tanto para saírem.

1 Response to Conto - Paranoia

20 de julho de 2011 às 10:54

Hei!

Tô passando só para avisar que tem selinho pra você lá em Escapismo

http://livro-escapismo.blogspot.com/2011/07/selinho.html

Beijos

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