quarta-feira, 26 de maio de 2010

Conto - Espírito Assassino

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“A polícia ainda procura suspeitos no assassinato de três mulheres encontradas mortas em seus apartamentos esse mês. Elas tiveram o dedo anelar...”
De repente tudo escuro.
- Ai não acredito que faltou energia. – disse Camila, indignada porque ia acabar perdendo o início da novela
- Calma, daqui a pouco volta. – disse Guilherme, seu namorado.
Camila pegou seu celular e começou a mexer.

Depois de minutos sem nada para fazer, o tédio começou a tomar contar.
- Gui, conta uma história? – pediu Camila
- Que história? – perguntou, com aquele escuro, ele estava quase caindo no sono
- Sei lá. Alguma coisa que você fez na infância e lembra até hoje.
- Tá bom. – Guilherme se ajeitou no sofá – A história que eu vou contar é bem apropriada ao ambiente.

“Bom, quando eu tinha lá para os meus treze anos, meus três irmãos decidiram brincar da brincadeira do copo. Sabe? Aquela com as letras e números escritos num papel e postos num círculo e o copo no meio...
Mas então, uma noite que nossos pais estavam trabalhando, nós decidimos brincar. Para deixar um clima bem propício para um espírito aparecer, nós fomos brincar no “quarto da bagunça”, era como nós chamávamos o quarto que era usado pra guardar tudo. Deixamos o ambiente iluminado somente com velas. Arrumamos as letras, nos sentamos em círculo. Eu vou confessar, estava MORRENDO de medo!
Como de praxe, antes de começar, rezamos um Pai Nosso e uma Ave Maria. Botamos o dedo indicador sobre o copo, mas sem encostar. Meu dedo tremia, eu simplesmente não queria estar ali.
Nos entreolhamos, esperando que alguém fizesse a pergunta inicial.
- Tem alguém aí? – perguntou meu irmão mais velho, Matheus
O copo não se moveu nem um milímetro.
Henrique riu.
- É, parece que fantasmas não existem.
- Tem alguém aqui? – perguntou Matheus, novamente
O copo se mexeu. Nós olhamos uns para os outros.
- Quem mexeu? – perguntou Henrique
Assustados, balançamos a cabeça negando.
- Qual o seu nome? – perguntou Henrique
O copo se moveu lentamente até a letra J e voltou para o meio.
- Só J?! – exclamou Bruno, incrédulo que fosse mesmo um espírito mexendo o copo – Qual o seu nome?
O copo novamente se moveu até a letra J e voltou para o centro.
- Acho que ele só quer ser chamado de J. – falei
- Então J, como você morreu? – perguntou Matheus
O copo se moveu. A, S, S, A, S, S, I, N, O.
- Assassino? Tipo, assassinado? Ah, vocês estão de brincadeira comigo, algum de vocês está movendo o copo! – exclamou Henrique tirando dedo do copo
- Não tira o dedo! – gritei assustado
Um vento frio vindo não sei de onde apagou as velas.
- Eu estou com medo. – falei
- Calma, eu vou acender a luz. – disse Matheus
- Isso aconteceu porque Henrique tirou o dedo, ele quebrou o elo de comunicação, aí o espírito ficou bravo. – disse Bruno, querendo me amedrontar. E estava conseguindo.
Ouvi passos atrás de mim. Um frio percorreu minha espinha.
- A luz não está acendendo. – disse Matheus. Ele falou tão sério que eu acreditei nele
Ouvi um barulho na maçaneta.
- Matheus, é você? – perguntei
- É. Mas a porta não tá abrindo.
- Não brinca! – exclamou Henrique
Ele foi até a porta e ele mesmo tentou abri-la.
- É, tá emperrada. Não quer abrir. – concluiu

Senti uma presença atrás de mim que fez meu corpo todo gelar. Me levantei rapidamente, acabei chutando o copo.
Eu senti uma força tomando conta de mim, como se quisesse expulsar a minha alma, e se apoderar corpo.
Lembro de ver meu corpo andando no escuro como se enxergasse tudo, indo até a caixa de ferramentas de meu pai e pegando uma chave de fenda.
Era como um filme em primeira pessoa, eu via o personagem, no caso eu, se movendo, mas não podia controlá-lo.
Fui até Bruno, o único sentado no chão.
Num único golpe, cravei a chave em sua cabeça. Ele nem viu o que lhe atingiu.”

- Depois disso, lembro de ter acordado num hospital psiquiátrico, todo amarrado. Meu pai gritava comigo pela janelinha da porta. Gritava algo do tipo: “você não é meu filho, seu assassino”. – Guilherme respirou fundo – Até hoje eu sinto aquela presença perto de mim.
- Ah, tá bom. Você matou seu irmão?! – perguntou Camila incrédula
- Não, eu matei meus irmãos. – disse Guilherme, tão friamente que nem parecia ser ele mesmo. – Com uma chave Philips matei Henrique, com o alicate de bico matei Matheus. Ele eu tive que apunhalar muitas vezes.
Camila levantou do sofá assustada.
- Quem é você?!
- J.
Indo em direção a porta, ela discou para a polícia. Uma força invisível bateu em sua mão, fazendo-a largar o celular.
- Se passasse mais tempo assistindo ao jornal do que à novela, saberia que tem um maluco fugiu do hospício. – a voz que disse aquilo não se parecia com a voz de Guilherme, mas certamente veio dele
Camila gritava por ajuda no mesmo instante que procurava no chão por seu celular que já tinha apagado o visor.
Guilherme chutou seu rosto, ela caiu no chão atordoada. Ele montou nela e começou a asfixia-la ao mesmo tempo que batia com sua cabeça no chão.
Camila o olhava com os olhos esbugalhados. Tentava se livrar de seu agressor, mas o máximo que conseguia era dar uns tapinhas ou arranhá-lo.
Guilherme usou tanta força que sentiu o osso do pescoço dela quebrando. Nesse momento ela não tinha mais vida. Podia ter morrido por causa da asfixia, ou das pancadas na cabeça.
Ele tirou uma alicate de corte do bolso da jaqueta e decepou o dedo anelar do cadáver.

Ainda esperou paciente a energia voltar.

Chegando em casa e guardou o dedo na gaveta da cômoda, junto com mais três dedos femininos.
Pegou o controle remoto e sentou-se no sofá, entre o cadáver se seu pai e sua mãe.

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3 Response to Conto - Espírito Assassino

1 de junho de 2010 às 07:37

Muito obrigada pelas história de possessão pris... /sarcasmo

eu já Não SOU medrosa, depois desse conto entao u.u

Bia
30 de junho de 2010 às 15:31

Oi Priscilla,
Meu nome é Bianca, eu sou a dona do blog Amor, Mistério e Sangue, que conta atualmente com 442 seguidores ativos (um número que cresce todos os dias.).
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Eliana
12 de março de 2011 às 17:00

Nossa, adorei seu conto. Parabéns...

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